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Inês Moura Pinto

Opinião: Será o comodismo descartável também?

Inegavelmente, a invenção do plástico contribuiu imenso para a humanidade, mas é a sua utilização imprudente que a encaminha para consequências irreversíveis. Em 1990 a produção de plástico era metade da actual. Por muito que a produção excessiva seja alarmante, o verdadeiro problema está no uso excessivo justificado pelo comodismo das pessoas. O plástico só é produzido desmedidamente porque alguém o vai consumir irresponsavelmente.


Vivemos numa sociedade que prefere queixar-se do preço do saco de plástico – e ultimamente pagá-lo – do que recorrer a alternativas sustentáveis. Para um país desenvolvido, com todos os avanços ecológicos e recursos de reciclagem de que dispomos, temos uma mentalidade um bocado retardada. De que servem estratégias como a aprovada em janeiro, de todos os plásticos no mercado da UE serem recicláveis ou reutilizáveis até 2030, se o cidadão comum é incapaz de reduzir o seu consumo de plástico?


O argumento de “estamos desinformados” torna-se inválido quando somos bombardeados com campanhas de sensibilização a toda a hora – como a recente “Menos Plástico Mais Ambiente” da AHRESP – e parece que nos tornámos imunes a elas. A sociedade está consciente do impacto negativo que tem no ambiente, mas prefere ignorá-lo com a desculpa de que “uma pessoa não vai fazer a diferença” e sucumbe ao comodismo dos produtos descartáveis.


Segundo a Quercus, 95,9% dos portugueses conhecem o impacto do plástico descartável no ambiente, mas apenas metade, 49,6%, mudou o seu comportamento com práticas mais sustentáveis. No mesmo grupo de inquiridos, 22,6% não conhecem as alternativas ao plástico descartável (sacos de pano, escovas de bambu, garrafas reutilizáveis, palhinhas de inox) e 65% não sabem identificar plásticos recicláveis. Segundo estes dados, não é surpresa que, por ano, Portugal consuma 259 milhões de copos de café, 10 mil milhões de beatas de cigarros, 40 milhões de embalagens de take-away, mil milhões de palhinhas de plástico e 721 milhões de garrafas descartáveis.


Porquê ter o trabalho de lavar loiça quando se pode usar de plástico e mandar fora? Contra o argumento da impraticabilidade da loiça verdadeira em situações de festa ou picnic há já todo um mercado de marmitas e utensílios que podem voltar a ser utilizados. Quem está habituado a descartar a loiça pode muito bem começar a considerar outras alternativas pois o Parlamento Europeu decretou em outubro que a venda de produtos plásticos de única utilização vai ser proibida na UE a partir de 2021. Estes plásticos tratam-se de pratos, talheres, cotonetes, palhinhas, agitadores para bebidas e varas para balões, e também produtos de plástico oxodegradável e recipientes para bebidas de poliestireno expandido.


Outro hábito dos portugueses, tradicionalmente comodistas, é ir para o supermercado sem saber como vão trazer as compras. Naquele momento de tensão em que a senhora pergunta se queremos saco ou não, muita gente cede à tentação de dizer que sim e paga 10 cêntimos, para não passar vergonhas ou dar os extra 50 cêntimos por um saco reutilizável. Contudo, não é só no fim das compras que os portugueses falham, a pesagem da fruta, por si só, já contribui para este uso excessivo. Felizmente, pesá-la sem plástico é um movimento cada vez mais crescente entre os cidadãos conscientes.


Não custa nada meter 3 ou 4 sacos de pano pequenos na carteira, então por que é que os portugueses não o fazem? Faria a diferença se os supermercados os vendessem? E se eu lhe dissesse que existem supermercados que apostam no conceito de compras a granel em qualquer recipiente que o cliente quiser trazer? É verdade, eles existem e, para os mais esquecidos, vendem também os sacos e recipientes.


Hoje em dia, muita gente comete o erro de afirmar que cortar no uso de plástico e não poluir “são coisas dos vegan”. Não, isso são coisas de quem se preocupa com o futuro do nosso planeta mesmo que não esteja cá para o ver. Ao contrário do que se pensa, a mais pequena das acções pode fazer a diferença. Só é preciso querer fazer alguma coisa, dizer não ao comodismo e sim a um comportamento consciente em relação ao ambiente.


Para onde vai a palhinha que, estupidamente, usamos para distanciar a nossa boca 5 centímetros do copo? O plástico representa 85% do lixo encontrado nas praias e, actualmente, existem 5 ilhas de lixo. A ilha de plástico do Pacífico Norte tem 17 vezes o tamanho de Portugal. Os plásticos que vão parar aos oceanos deterioram-se em pequenas partículas – microplásticos - e são ingeridos por animais. Se não houver uma mudança comportamental, até 2050 haverá mais plásticos do que peixes nos oceanos. Estes microplásticos podem contaminar o ar, a água e os alimentos, afectando, também, a nossa saúde. Agora que referi que nos afecta directamente já é mais importante e iminente parar o uso desmesurado de plástico?


Este material, cuja produção através de petróleo e gás natural implica graves consequências ambientais, demora entre 200 a 400 anos a desaparecer. Quanto tempo vamos nós demorar a acabar com estes hábitos insustentáveis e cuidar do planeta?

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