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Foto do escritorMara Tribuna

Opinião: Natal para sempre?

O capitalismo adora o Natal. Na sua origem não distorcida, o Natal é um feriado religioso cristão que pretende celebrar o amor, a paz, a confraternização e, acima de tudo, o nascimento de Jesus Cristo (a nossa grande salvação personificada). Mas o que é que o Natal celebra atualmente mesmo? Embora seja um feriado religioso, é genericamente comemorado por cristãos e não-cristãos, daí o Natal não ser um feriado para os religiosos, mas um feriado para os capitalistas.


Quando os três reis magos – Gaspar, Baltasar e Belchior – oferecerem os seus presentes a Jesus, segundo a tradição do cristianismo, nunca pensaram que milhares de anos mais tarde o seu gesto fosse completamente adulterado por consumistas impulsivos que acreditam que a melhor forma de mostrarem amor e gratidão nesta altura é a esbanjar dinheiro em presentes para familiares e primos afastados que vemos esporadicamente, para mostrar que, pelo menos uma vez por ano, se lembram deles.


Para muitos, o Natal é sinónimo de lojas cheias e gastos avultados, prendas debaixo da árvore e os seus talões de troca, embrulhos e plásticos, laçarotes vermelhos e dedicatórias forçadas. E claro que não podemos esquecer os anúncios de perfumes e de brinquedos, tão típicos nesta altura do ano, que se repetem incessantemente na televisão, de modo a que ainda nem é véspera de Natal e já ninguém os pode ver à frente. Somos também constantemente bombardeados por supostos descontos e promoções nesta época festiva que, para o capitalismo, não se resume apenas à semana natalícia.


A “magia do Natal” começa a ser cultivada muito mais cedo, lá para outubro, e é explorada ao máximo pelas empresas e pelo nosso querido marketing. Afinal, o Natal é uma das festividades que mais estimula a economia, senão a principal. Mas esta "magia" não acaba logo no dia 25, claro que não. Quem nos dera. Prova disso é que é dia 26 de dezembro e as lojas estão cheias, impressionante. Mas contra mim falo, porque para saber isto estive num shopping. No entanto, e para minha defesa, a ideia não foi, de todo, minha e apenas fui acompanhar, não consumi nada.


Imagino que, tal como este centro comercial, muitos outros devem estar cheios. Pergunto a mim mesma o que é que as pessoas poderão querer comprar um dia depois de terem recebido prendas naquele que é o feriado capitalista comemorado internacionalmente. Chego a, pelo menos, duas hipóteses – número 1: foram trocar os presentes que receberam; número 2 – não ficaram satisfeitos com o que receberam, pelo que tiveram a necessidade e o impulso de consumir (ainda) mais. Qualquer das duas opções é absurda.


Honestamente, sou da opinião de que as lojas não deveriam estar abertas precisamente no dia depois do Natal. Qual é a necessidade simplesmente? Porque não dar descanso ao capitalismo pelo menos mais um dia? Juro que não odeio o Natal, nem o capitalismo, acho só que, enquanto cidadãos do século XXI, temos as prioridades cada vez mais trocadas e não deveria ser assim. E nem me vou pôr a falar dos saldos, que começam pouco depois de dia 25.


A "magia" acaba algures em janeiro, pelo que o Natal, uma suposta festividade que poderia facilmente resumir-se a dois dias, dura uns bons meses, prolongando-se pelo inverno fora. A data do nascimento de Jesus Cristo nem é certa, a Bíblia não informa a data precisa do seu nascimento, nada comprova que, de facto, nasceu no dia 25 de dezembro. Por isso, cristãos e não-cristãos, afinal o que é que estamos a celebrar mesmo?


Apesar de estar com esta conversa toda, não acredito ser possível contrariar a sociedade, acho que somos irremediáveis e a tendência não é, de todo, melhorar, pelo contrário. Acredito também que grande parte da população só está bem enquanto consome, seja no Natal ou não. Cada vez mais penso que o Natal não é uma festividade isolada, é mais um estado de consumo constante.




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