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Foto do escritorPrisma

Editorial: Quase que lhe conseguimos tocar

Mais do que assumir lados numa guerra, importante é perceber que, sem paz, estamos todos no mesmo: o da desgraça.

Ilustração de Sara Brandão

Lendas dizem que, quando o assunto se alastra ao ocidente, o sentimento de urgência vem ao de cima. Chega-nos a pimenta ao nariz e parecemos baratas tontas, desorientadas com cada notícia que nos toca. Vivemos o momento como que numa premonição do fim do mundo.


A situação é feia: os Estados Unidos de Trump mataram Soleimani, e o Irão reagiu com mísseis contra as bases aéreas americanas no Iraque. A Europa sustém a respiração ao mesmo tempo que o sangue frio corre do outro lado do planeta.


A novidade deste assunto é que, infelizmente, não é novidade. Os confrontos no médio-oriente são uma constante há anos e, nesta roda-viva de atentados e mortes, nada parece mudar.

Seria de esperar que a História fizesse o seu papel de contenção de futuros retrocessos. Seria de esperar que soubéssemos escrever o amanhã com mais destreza do que aquela com que o fazemos. Se calhar o nosso problema é esse: esperamos. Esperamos eternamente que as respostas apareçam, esperamos que os mesmos erros não sejam cometidos, esperamos que os problemas se mantenham longe de nós até ao dia em que a distância se apaga. Até ao dia em que a solução parece ser apenas uma.


O mundo não tem nada a ganhar com o confronto. Ninguém ganha nada com este medir de forças que acaba sempre mal. Não precisamos de mais desastres para aprender uma lição que o passado já ditou vezes sem conta. Somos sempre mais fracos quando achamos que somos os mais fortes e, sobretudo, somos sempre mais pobres quando o poder se sobrepõe à humanidade.


A guerra acontece a muitos quilómetros daqui mas, por momentos, chegou-nos ao nariz e quase que lhe conseguimos tocar. Os anos passam e evoluímos em muita coisa. Mas não aprendemos mesmo nada.

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