Cada vez é mais frequente ver palavras com terminações como “o/a, os/as” e até “@” e “x”, o que remete, naturalmente, para a questão da inclusividade da linguagem O objetivo é retirar o género das palavras, incluir ambos os sexos e, principalmente, promover a igualdade de género.
A linguagem inclusiva – também chamada de linguagem não sexista, não binária ou neutra – questiona, essencialmente, o uso do masculino como genérico que tanto inclui homens e mulheres. Mas afinal a linguagem inclusiva é uma questão gramatical e linguística, ou estará em causa um problema maior?
Ora a língua e, neste caso, o português não é intrínseca ou propositadamente machista ou sexista. Desde a sua origem que a língua portuguesa está codificada de uma forma binária, no entanto, o plural e o universal sempre se utilizaram no masculino. Ultimamente, isto tem sido questionado por considerar que oprime e que não abrange a totalidade das pessoas, especificamente, os homens e as mulheres. E a linguagem, enquanto sistema de comunicação vivo, evolui e pode adaptar-se a esta nova realidade.
Porém, antes de nos debruçarmos sobre assuntos mais teóricos e linguísticos, não será mais importante e prioritário resolver primeiro outras questões, como, por exemplo, as desigualdades salariais? As mulheres sempre receberam menos do que os homens, e esta situação mantém-se em pleno século XXI. A realidade agrava-se quando sabemos que as desigualdades salariais existem, inclusive, quando ambos os géneros – homens e mulheres – exercem funções exatamente iguais.
Neste sentido, se a linguagem deve ou não ser inclusiva e promotora da igualdade de género parece um problema “menor” que por sua vez pertence a um problema “maior”. Não é que a linguagem não deva ser inclusiva, porque pode sê-lo perfeitamente, mas a linguagem em si não é discriminatória. O que está em causa é o comportamento humano, o preconceito e a própria sociedade.
Em termos gramaticais, não se trata de uma questão de confronto ou de batalha entre palavras e géneros, no qual o sexo masculino prevalece sobre o feminino. Utilizar o masculino para referir-se ao plural e universal é simplesmente algo que se convencionou há muitos anos atrás.
A linguagem inclusiva parece mais uma questão de neutralidade da ortografia do que de promoção da igualdade de género. Porque, na verdade, para falar de desigualdade de género não precisamos de ir tão longe. Podemos falar da falta de representatividade das mulheres na política, das desigualdades no mercado de trabalho, das disparidades salariais, das diferenças no acesso à educação, e do difícil acesso aos cargos profissionais mais elevados. A lista podia continuar.
É preciso pôr as coisas em perspetiva. Claro que a linguagem pode ser inclusiva e promotora da igualdade de género, mas quando comparada a outros problemas, relativos à discriminação, preconceito e desigualdade de género, parece perder o seu relevo. Seria mais urgente resolver a disparidade e injustiça do mercado laboral, por exemplo, e só depois passar para questões como a inclusão verbal e o discurso neutro que não utiliza o masculino como genérico para incluir homens e mulheres.
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