Juntar numa conversa o rapper Akon ao eurodeputado Carlos Moedas pode parecer estranho, mas o sucesso é matéria transversal a várias áreas. O que o determina? Em conjunto com Vasco Pedro, CEO da Unbabel, e com moderação da jornalista da VICE, Anne Gaviola, as competências não formais estiveram em debate no segundo dia de Web Summit.
Liderança, falhanço e medos. Foi à volta destes assuntos que se desenrolou a sessão “What they don’t teach you at business school“, que decorreu durante a manhã desta terça-feira no espaço Startup University da Web Summit. Numa linha informal e num ambiente bem disposto, o rapper Akon, o eurodeputado Carlos Moedas e o empresário Vasco Pedro juntaram-se num encontro improvável para debater competências não formais, em resposta às questões lançadas por Anne Gaviola, da VICE.
Partindo das experiências pessoais, distintas entre si, os oradores destacaram aquilo que consideram ser pontos essenciais que não se aprendem num percurso de ensino, por muito digno que ele seja.
Na verdade, a passagem pelo ensino superior não é condição obrigatória para o sucesso. Bill Gates e Steve Jobs são exemplos clássicos neste tópico, mas Akon deu o seu exemplo. O cantor norte-americano, que é também co-criador do projeto Akon Lightning Africa (destinado à distribuição de eletricidade através de energia solar, em África), destacou que o facto de não ter frequentado a universidade não se revelou um entrave na sua carreira e referiu que, antes disso, “já sabia o que queria fazer” e que essa vontade o ajudou a ultrapassar a barreira da concretização. “Quando uma pessoa se põe numa posição em que sabe exatamente o que quer e é bom naquilo que faz, torna-se excelente.”
Já Carlos Moedas tem um percurso diferente. A licenciatura em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico e o Master of Business Administration, tirado em Harvard, conferem um currículo de peso ao Comissário Europeu. No entanto, a universidade não lhe ensinou tudo.
O espírito de liderança foi um tópico muito discutido. Carlos Moedas afirma que este é um conceito que tem vindo a mudar: “Quando andava na Business School, o líder era aquele que criava uma visão e inspirava os outros a segui-la. Hoje em dia, os jovens não querem isso. Querem criar uma visão em cooperação com o líder. Os líderes têm de estar no backstage", afirma. Na sua perspetiva, este é um desafio atual, principalmente para os políticos, porque “não sabem estar no backstage".
Akon acredita que a liderança é nata e que há pessoas que “são líderes desde crianças”. Já Vasco Pedro, português doutorado em Computer Science pela Carnegie Mellon University, e agora CEO da Unbabel, afirma que a liderança é algo que se “estimula”.
Como nem tudo são rosas, também o falhanço foi um dos temas abordados. Para Akon, o falhanço não existe: “Não acredito no falhanço. Para mim, falhar é ter medo”, acrescenta. Para o músico, o segredo é “trabalhar para ficar sempre o mais próximo possível do objetivo final” e ter força de vontade porque “no momento em que sentes medo, tudo na vida se transforma num desafio”.
Já Carlos Moedas defende uma filosofia diferente, que aceita o falhanço e o medo não só enquanto naturais como até necessários. “Não tentem não ter medo. Toda a gente tem inseguranças e eu acredito que mostrar alguma vulnerabilidade quando te ligas a uma pessoa é uma coisa natural e positiva”, declara. Vasco Pedro partilha da mesma opinião e acrescenta que “é preciso retirar força das vulnerabilidades”.
O final da sessão foi marcado por uma questão ousada por parte de Anne Gaviola: “se pudessem dar um conselho a qualquer pessoa que estivesse a ver a sessão de hoje, o que diriam?”. As respostas foram distintas, mas unidas na sua génese. Akon disse para “seguir a paixão e não ter medo de falhar”. Carlos Moedas afirmou, em tom de brincadeira: “Não sigam os vossos pais, eles vão ter medo que vocês falhem e não vos vão tirar da vossa zona de conforto”. Vasco Pedro completou: “sigam a vossa própria voz”.
Este artigo foi produzido em colaboração com o JPN - JornalismoPortoNet.
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