A jovem ativista Greta Thunberg atracou hoje à tarde em Lisboa, quase cinco horas depois do previsto. A adolescente velejou até Portugal antes de seguir para a Cimeira do Clima da UNO, em Madrid.
"Mais vale tarde do que nunca" parece ser a expressão adequada, não só à muito aguardada chegada de Greta Thunberg, mas também à mensagem de luta pelo planeta que preconiza. A jovem sueca chegou, esta terça feira, a Lisboa a bordo do catamarã La Vagabonde.
À sua espera estavam o Presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, o vereador da Câmara de Lisboa, Manuel Grilo, o líder da comissão parlamentar do Ambiente, José Maria Cardoso, e uma das organizadoras da Greve Climática Estudantil em Portugal, Matilde Alvim. Contudo, a recepção não se fez só de figuras políticas e jornalistas: manifestantes dos movimentos Fridays For Future e Extinction Rebellion, estudantes, e até turistas, marcaram presença com cartazes e mensagens de apoio.
Quem não fez parte do acontecimento foi Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República disse, em declarações aos jornalistas no domingo, que não iria "tirar proveito político" da passagem de Greta por Portugal. No entanto, não escondeu a sua satisfação com a presença da activista na cimeira: "num momento em que o mundo discute em Madrid aquilo que é um tema do presente e do futuro, é um sinal muito positivo termos entre nós um símbolo de juventude".
Ainda o barco velejava pelo rio Tejo e já centenas de portugueses acompanhavam a travessia através de um live stream, ansiosos pelo momento histórico da chegada da jovem, que há um ano trocou a escola pelo ambiente. São muitos os sensíveis à emergência climática e ao percurso revolucionário de Greta, que lhe conseguiu um lugar à mesa dos adultos na Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP25), em Madrid. Ainda assim, nem todos compactuam com o impacto político e mediático da adolescente.
"We love you sister, thank you" é o grito eufórico de um activista que dá início à conferência de imprensa da jovem sueca, nas Docas de São Amaro. Fernando Medina é o próximo a receber Greta Thunberg, não grita, mas fala pela da cidade inteira: "é um grande privilégio ter entre nós o que tem sido uma das vozes mais notáveis a lutar por todos nós na batalha mais decisiva que enfrentamos juntos - a luta contra contra as alterações climáticas". Medina aproveitou, ainda, para reforçar que Lisboa tem consciência de que o planeta "está a perder a batalha contra o aquecimento global", e criticou aqueles que ficam incomodados com a "sonoridade" da voz de Greta.
Matilde Alvim, embaixadora da greve climática estudantil em Portugal, fez das palavras de Greta Thunberg suas quando disse: "a nossa casa está a arder". A estudante reivindicou, em nome do planeta, que se "atinja a neutralidade carbónica em Portugal até 2030", que se "mantenham os combustíveis fósseis, incluindo o gás, no solo", que se "forneça energia renovável a todos" e que se "cancelem novos projectos de aeroportos, incluindo o de Montijo".
Com os pés bem assentes em terra, Greta mostrou-se agradecida pela aventura que está a viver: não só pela viagem, mas também pela recepção que teve no destino. No seu discurso pediu que olhássemos para a emergência climática de um "ponto de vista holístico" - "para fazermos tudo o que pudermos temos de trabalhar em conjunto".
Para Greta, não se trata de uma luta "por nós, mas pelos nossos filhos, netos e qualquer ser vivo na Terra". A jovem desafiou toda gente a "ficar no lado certo da história" e a começar activamente "a lutar pelo seu futuro também". Aos políticos, deixou o conselho de "ouvir a ciência" e os "especialistas", pois "não deveria caber às crianças apresentar planos para assegurar condições de vida futuras".
Ao contrário do esperado, e devido aos ventos que complicaram a viagem, Greta Thunberg irá ficar em Portugal uns dias, e não apenas algumas horas, antes de se deslocar até Espanha. Segundo a agência Lusa, em resposta a estas alterações, a Câmara de Lisboa cedeu alguns veículos eléctricos para as suas deslocações. Continua incerto como será a sua ida até Madrid, se será de comboio ou não, o que poderá comprometer a intenção da activista em circular ecologicamente.
A jovem de 16 anos viaja acompanhada pelo pai, Svante Thunberg, uma skipper britânica, Nikki Henderson, o casal amigo, Elayna e Riley, e Lenny, o seu filho de 11 meses. Greta partiu a 13 de novembro de Hampton, onde participou na Cimeira do Clima de Nova Iorque. Depois de rumar à COP25, onde irá participar na sexta feira, Greta espera "poder passar o Natal em casa".
Comments