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Foto do escritorMara Tribuna

#5JobCiber: o debate sobre o ensino de ciberjornalismo

A quinta edição das jornadas do Observatório de Ciberjornalismo (ObCiber) realizou-se esta quinta-feira, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O ensino do ciberjornalismo foi o grande tema da edição que contou com vários docentes da área. No final, houve ainda a entrega de prémios, onde o jornal Público foi o grande vencedor.

O debate contou com a presença de vários docentes de ciberjornalismo | Mara Tribuna

Debater o ensino do ciberjornalismo, em Portugal, está em falta, por isso, “as jornadas são um pequeno contributo para o debate” e ainda uma “boa oportunidade de trocar ideias à volta do tema”, diz Hélder Bastos, diretor do curso de Ciências da Comunicação na FLUP e membro do ObCiber.


Pilar Sánchez-Garcia, professora na Universidade de Valladolid, Espanha, deu “um cunho internacional às jornadas”, tal como referiu Fernanda Ribeiro, diretora da FLUP, também presente no início da conferência. Sob o mote “A essência formativa do ciberjornalismo face à tecnoeuforia: o que muda e o que não muda”, Pilar Sánchez-Garcia refletiu sobre as ansiedades e os desafios que o ensino e o próprio jornalismo enfrentam na “era eufórica da tecnologia”.


Para a professora da Universidade de Valladolid, permanece o domínio da escrita e do audiovisual, a identificação de uma história, o critério jornalístico, e o fim social da profissão. Assim, mantém-se a capacidade do jornalista de “contrastar, verificar e chegar à verdade”, indispensável à própria profissão.

Pilar Sánchez-Garcia da Universidade de Valladolid | Mara Tribuna

No entanto, Pilar Sánchez-Garcia referiu que deve existir uma “renovação” no perfil profissional e no conjunto de capacidades e competências dos jornalistas. A académica destacou, assim, a importância de ter uma “atitude flexível” e “autodidata” na era da tecnoeuforia, de modo a formar “jornalistas polivalentes” e com “capacidade multimédia”.


Mas apesar das mudanças nas redações provocadas pela tecnologia, para a professora da Universidade de Valladolid, em Espanha, a essência do jornalismo permanece: “Tudo muda, mas na realidade nada muda”.


Os desafios no ensino: da literacia crítica ao ciberjornalismo inclusivo


Após a conferência, seguiu-se um debate que contou com quatro professores universitários de ciberjornalismo de diferentes universidades. Inês Amaral (Universidade de Coimbra), Fernando Zamith (Universidade do Porto), Luís António Santos (Universidade do Minho) e Vanessa Rodrigues (Universidade Lusófona do Porto), moderados por Hélder Bastos, continuaram o debate sobre o ensino de ciberjornalismo. A partir de experiências pessoais, os docentes falaram sobre os principais desafios e dificuldades que enfrentam.


Inês Amaral começa então por destacar a importância da “literacia crítica”, isto é, para professora na Universidade de Coimbra (UC), a promoção do pensamento crítico deve continuar a ser central no ensino do jornalismo. “A falta de literacia crítica é talvez o aspeto mais difícil dentro da sala de aula”, confessa.


Inês Amaral da Universidade de Coimbra | Mara Tribuna

Segundo Inês Amaral, há “muitos desafios para o ciberjornalismo, em geral, e para o ensino do ciberjornalismo, em particular”. A docente da UC diz ainda que é importante não “formatar” os alunos: “devem ter a experiência deles, e não a dos outros media”.


Vanessa Rodrigues, professora e também responsável pelo Infomedia (a plataforma online de jornalismo académico da Universidade Lusófona do Porto), enumerou também algumas das principais dificuldades sentidas no ensino de ciberjornalismo. Falou então do desafio de trabalhar com alunos em diferentes ritmos e em relativamente pouco tempo, e a preponderância da internet no discurso dos jovens, nomeadamente, a influência dos youtubers.


Vanessa Rodrigues partilhou ainda a experiência de um aluno seu, invisual, e salientou a necessidade do ensino e do próprio ciberjornalismo serem mais inclusivos. Neste sentido, a professora da ULP também considera imperativo ser-se mais criativo no modo como se trabalha com os alunos. Ainda assim, “há esperança porque tem sido feito um trabalho fantástico”, afirma.

Vanessa Rodrigues da Universidade Lusófona do Porto | Mara Tribuna

O panorama do ciberjornalismo: duas perspetivas diferentes


Luís António Santos, professor da Universidade do Minho (UM), apresentou uma visão “pessimista” sobre o panorama atual do jornalismo. “Quando era mais novo tinha mais certezas do que agora”, confessa. Luís Santos fala do desafio de fazer jornalismo com relevância social num modelo empresarial dominado pelos grandes grupos de interesse e de poder.


O professor contrasta, assim, a capacidade crítica do jornalista com a “automação”, cada vez mais frequente na profissão. Neste sentido, o docente menciona ainda a “agonia do clique” que se observa no jornalismo online. Luís António Santos destaca, assim, a importância de dar aos alunos a oportunidade de experimentarem "jornalismo livre". “Não vão encontrar isso no mercado de trabalho, salvo raras exceções. É essa a esperança”, acrescenta.

Luís Santos da Universidade do Minho | Mara Tribuna

O docente da UM constatou ainda uma alteração no perfil do aluno: passou de um aluno que que lia jornais e que tinha uma cultura generalista larga para um perfil misto. Atualmente, distingue, por um lado, um tipo de aluno “quase ativista e missionário do jornalismo” e, por outro lado, um aluno que tem “perceções completamente erradas sobre o que é o jornalismo”.


Já Fernando Zamith, da Universidade do Porto (UP), expôs uma perspetiva mais otimista e realçou a resistência que o ciberjornalismo tem oferecido, dando o exemplo do JornalismoPortoNet, o jornal multimédia e projeto de licenciatura de Ciências da Comunicação da UP, que completou 15 anos.


Noutra linha de raciocínio, Fernando Zamith reiterou uma ideia defendida por Pilar Sánchez-Garcia e também por Hélder Bastos: “O prefixo “ciber” terá de cair. Talvez um dia vamos deixá-lo cair, porque o essencial é o jornalismo”, afirmando ainda a necessidade de voltar ao que é realmente fundamental na área.

Fernando Zamith da Universidade do Porto | Mara Tribuna

Por último, Zamith destacou duas dificuldades principais que enfrenta enquanto professor de ciberjornalismo: o pessimismo sentido pelos estudantes logo no início relativamente à profissão, e o défice de atenção nas aulas, potenciado pelos computadores e telemóveis. “Quem está realmente atento?”, pergunta retoricamente, acrescentando que vivemos num “mundo de super-estímulos sensoriais simultâneos”.

O momento mais aguardado do JobCiber


O anúncio e entrega dos Prémios de Ciberjornalismo 2019 foi o terceiro momento das Jornadas do ObCiber. Concorreram cerca de 100 trabalhos para oito categorias, nomeadamente: Ciberjornalismo Académico, Ciberjornalismo de Proximidade, Infografia Digital, Narrativa Sonora Digital, Narrativa Vídeo Digital, Reportagem Multimédia, Última Hora e Excelência Geral em Ciberjornalismo.


Os prémios dividiam-se ainda em duas categorias: os prémios do júri e do público. O júri era composto por uma equipa de treze docentes universitários que escolheram os vencedores. E, por sua vez, o público também teve direito a eleger os melhores trabalhos ciberjornalísticos, através da votação online, disponível na página do ObCiber até ao dia 22 de novembro.

O Público conquistou 4 prémios de ciberjornalismo | Mara Tribuna

O Jornal Público foi o grande vencedor: conquistou quatro dos oito prémios, tanto do júri, como do público. David Pontes, diretor-adjunto do Público, agradeceu: “Obrigado ao ObCiber por tornar mais claro aquilo que é jornalismo bem feito”.


Na 12ª edição dos Prémios de Ciberjornalismo, assistiu-se ainda à passagem de pasta da presidência da comissão científica de Hélder Bastos, que continua na comissão, mas apenas como parte do júri, para Ana Isabel Reis, também da Universidade do Porto.


Lista completa dos vencedores

Prémios do júri:


Prémios do público:


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