A Web Summit arrancou esta segunda-feira no Parque das Nações, em Lisboa. A capital volta a receber oradores e visitantes de todo o mundo, de 4 a 7 de novembro, na maior conferência da Europa sobre tecnologia. O discurso de Edward Snowden, a apresentação de startups e a preocupação com água foram alguns dos destaques do primeiro dia.
Lisboa volta a ser palco de uma das maiores cimeiras de tecnologia realizadas a nível mundial. A edição deste ano esgotou, pelo que, de segunda a quinta-feira, mais de 70 mil pessoas vão passar pelo Altice Arena e pela Feira Internacional de Lisboa, onde se realiza a Web Summit. Já no primeiro dia se sentiu a sobrelotação: cerca de dez mil pessoas não conseguiram entrar no palco principal para a cerimónia de abertura.
O dia de arranque contou com conferências de oradores como Guo Ping, chairman da Huawei, e Jaden Smith, ator, músico e ativista. Várias startups tiveram também oportunidade de apresentar as suas ideias promissoras e de mostrar o seu potencial. Paddy Cosgrave, co-fundador da Web Summit, não deixou de ser o anfitrião neste primeiro dia. Além disso, Edward Snowden participou em direto a partir da Rússia, com transmissão via satélite.
Edward Snowden, um dos oradores mais aguardados que nem sequer pisou o palco
Começaram, assim, oficialmente as primeiras conferências do centre stage da Web Summit. Edward Snowden, antigo especialista da CIA, não pisou o palco português, mas marcou presença com um discurso alarmante. Depois de algum suspense com a entrada solitária do jornalista James Ball, Snowden, agora exilado na Rússia, acabou com a utopia daqueles que ainda acreditavam vê-lo em Portugal. Projetado em dois grandes ecrãs, deu-se início à entrevista ao ex-espião em direto.
Como convidado especial da abertura, coube a Snowden a responsabilidade de arrancar o maior evento tecnológico da Europa, e fê-lo alertando os espectadores para os perigos da mesma. Num evento que assenta na partilha dados, exigida pela app obrigatória a todos os participantes, a presença de Snowden aparenta ser contraditória. O especialista veio à Web Summit falar de tecnologia isenta e transparente, expondo as incongruências da recolha de dados por empresas.
Startups, os grandes jogadores da Web Summit
Como é habitual, houve tempo também para que algumas startups ganhassem destaque neste primeiro dia de apresentações. Durante uma hora e meia, o Centre Stage, palco principal do evento, recebeu alguns dos mais promissores projetos, dando-lhes voz e destaque perante possíveis investidores.
Com relevo para as empresas portuguesas, Barkyn, de André Jordão, e Fyde, de Luísa Lima, ganham terreno ao apresentar soluções de cuidados para cães e cibersegurança, respetivamente. Já na área da saúde e da rentabilização de recursos, Daniela Seixas apresentou a Tonic App. Portugal destaca-se ainda com Stratio, apresentado por Rui Sales: um projeto que une a engenharia com a investigação científica, de forma a prever e corrigir certas falhas em veículos.
Os restantes dias da Web Summit vão continuar a contar com breves apresentações de startups. As sessões realizam-se de manhã e, através de um pitch, as empresas têm então a possibilidade de dar a conhecer, ainda que em poucos minutos, a visão geral da sua startup, com o objetivo principal de atrair investidores.
Lisboa, solo fértil para tecnologia de todo o mundo
Numa edição em que as mulheres perfazem quase metade dos participantes (46,3%) da Web Summit, Filomena Cautela foi a moderadora numa conversa de mulheres. A sessão “A two way street: Portugal & the tech world” trouxe a palco duas empresárias cujo caminho de sucesso tem um ponto em comum: Portugal.
Michelle Zatlyn é fundadora e COO da Cloudfare, uma empresa dedicada à segurança na navegação online. Embora a sede seja em São Francisco, várias são as representações da Cloudfare em todo o mundo, desde Londres a Singapura. Dez anos depois da sua criação, em 2009, a empresa elege Lisboa como o local para o seu novo centro europeu. Zatlyn fala do “talento” que a capital portuguesa apresenta como uma das razões para esta escolha.
Já Daniela Braga é portuguesa. A DefinedCrowd, empresa de que é fundadora e CEO, tem centros em Seattle, Washington, em Lisboa e no Porto. A opção de ter representatividade em Portugal, como é o caso desta organização focada no processamento de dados, é prova do nível de competitividade do país, o que reforça a ideia de que Portugal é, de facto, um solo fértil para tecnologia.
5G, uma “nova era”
Guo Ping, chairman da Huawei, apresentou a conferência “5G+X: Creating a new area?”, na qual apelou aos novos investidores e empresas para se juntarem à tecnologia chinesa. Segundo Guo Ping, a quinta geração móvel (5G), “vai mudar a forma como vivemos e trabalhamos”.
O presidente do Conselho de Administração da Huawei afirmou ainda que, tal como a eletricidade, a futura geração de comunicação móvel “vai mudar o mundo”. O 5G inclui ainda o armazenamento de dados e a inteligência artificial. Através de um discurso apelativo no primeiro dia da cimeira tecnológica, Guo Ping apresentou, assim, aquilo que será o início de uma nova era.
Água, o bem subvalorizado com destaque na conferência
Um realizador, um cientista e um ator entram no palco da Web Summit. A última coisa que se pensa ser o tema da conversa é água, mas é mesmo a ela que Paul O’Callaghan, Gary White e Jaden Smith dedicam o seu trabalho e tempo na conferência. O trailer de Brave Blue World abre a sessão intitulada “Saving the planet, one drop at a time“. O documentário foi realizado por Paul O’Callaghan ao longo de seis continentes e pretende trazer uma visão mais esperançosa à turva crise da água, um problema sempre presente no mundo não-ocidental e que chega a gerar conflitos sociais, como foi caso da Índia, este verão.
“A água é motivo de conflito mas pode ser motivo de cooperação”, reflete Paul, que conta que, durante as gravações de Brave New World, visitou o Quénia durante uma seca de meses e assistiu à união de uma comunidade para recolher água, captando a humidade do ar.
Em ação direta no Quénia desde 2005 está a Water.org, empresa fundada pelo cientista Gary White e o ator Matt Damon. Segundo White, a solução passa por “micro-empréstimos” aplicados localmente, mas, com infraestruturas no papel avaliadas em “milhares de milhões”, ainda há muito a ser feito. Contudo, o co-fundador refere à audiência multitudinária da Web Summit que a organização sem fins lucrativos já ajudou 22 milhões de pessoas em fracas situações de saneamento.
Com uma “ligação espiritual” à água e à sua importância desde os onze anos, como conta, Jaden Smith sentou-se cedo à mesa dos grandes que trabalham para fazer prolongar um recurso que sempre tomámos como certo. Participou no documentário de O’Callaghan como fundador da empresa JUST, que produz água sustentavelmente extraída e engarrafada nos Estados Unidos. Partilha o cargo com Drew Fitzgerald, também orador convidado nesta edição da Web Summit. Nos apelos finais da sessão, a voz de Jaden não venceu à música simbólica de final de tempo.
Este artigo foi produzido em colaboração com o JPN - JornalismoPortoNet.
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