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Inês Moura Pinto

Serviços de Streaming: a indústria que revolucionou o nosso dia a dia

Em plena Era Digital, no auge da tecnologia, a televisão tradicional é quase obsoleta. Hoje em dia a complicação não está em escolher o canal ou filme, mas sim em escolher o serviço de streaming que se quer pagar daqui para a frente.

Inês Moura Pinto

Com o virar do século o mundo mudou. O que antes era analógico e palpável agora é digital e produto de uma sequência numérica de zeros e uns. A televisão foi um dos campos mais afetados pela revolução digital. Em tempos pensou-se que a concentração tecnológica migraria para o aparelho televisivo e não para os telemóveis, mas isso não aconteceu. A televisão, sim, como serviço, migrou para os nossos telemóveis, tablets e computadores.


No passado, para ver um filme havia apenas quatro opções: ou se via nos canais da televisão, ou se comprava um bilhete de cinema, ou se comprava uma cassete/DVD, ou se alugava numa loja de vídeo. Qualquer uma das opções era um compromisso sério, bem como a escolha do filme que se iria ver. Depois do digital, o leque aumentou. Na primeira década dos anos 2000 passou a ser possível fazer o download ilícito de filmes, o que, apesar de ilegal e imoral, facilitou muito o visionamento de conteúdos diversificados.


Agora, no arranque da terceira década do século, as opções são imensuráveis e a escolha prende-se pela subscrição do serviço de streaming com a melhor oferta e plano de pagamento. A forma como se consome televisão mudou e a sua programação também.


A impaciência, o binge watching e a instantaneidade


Em 1990, os programas viam-se com data e hora marcada, ou então por acaso. Para ver um conteúdo desejado, que iria passar num canal da televisão, era necessário comprometer-se a estar disponível quando ele passasse. Não havia “andar para trás” na televisão, a única altura em que se andava para trás era quando se tinha de rebobinar as cassetes de VHS para o início. Hoje em dia, esse tipo de paciência e compromisso eram inconcebíveis.


Vivemos numa sociedade que quer tudo, e quer rápido. A instantaneidade nunca foi tão real e não há melhor exemplo que o do consumo televisivo. No início da década de 2010, ainda se esperava uma semana para ver o próximo episódio, e às vezes meses nas interrupções. Hoje, o consumo foi de tal forma alterado pelas plataformas de streaming que as temporadas ficam disponíveis por inteiro no mesmo dia.


Na mesma altura em que a televisão começou a perder audiência, a gigante Netflix, que ainda era bem pequena, iniciou o investimento em conteúdos originais. Tinha pouco mais de 12 milhões, agora conta com mais de 150. Em 2013, lançou o seu primogénito - House of Cards - e disponibilizou todos os treze episódios de uma só vez. Isto foi resultado de um estudo não só do mercado, mas também do comportamento dos utilizadores nas ditas “maratonas”, mais conhecidas como binge watching. “Os nossos dados de audiência mostram que a maioria dos espetadores de streaming prefere ter uma temporada completa disponível para ver no seu próprio ritmo”, explicou o diretor de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos.


Contudo, nada garante que o futuro reserve este tipo de visionamento. No virar da década, plataformas como o novo HBO Max e a Disney+ estão a fasear o conteúdo e regressar aos episódios semanais.


A Guerra dos Tronos pode ter acabado mas a “Guerra dos Serviços de Streaming” ainda dura


Se em tempos a Netflix reinou o mundo do streaming, o seu mandato pode estar a chegar ao fim. A concorrência nunca foi tanta. Em 2019, a gigante do streaming ganhou concorrentes de peso como a Disney+ e a Apple TV+ com catálogos extensos e produções originais aclamadas pela audiência.


A Disney de hoje já cresceu além dos clássicos de animação. Os universos de Star Wars e da Marvel, o estúdio Pixar e o canal National Geographic são algumas das ofertas exclusivas da empresa. Apenas seis meses depois serem criados, segundo uma avaliação do banco Barclays, os serviços de streaming Disney+, Hulu e ESPN+ valem, juntos, 108 mil milhões de dólares. Nos primeiros dois meses, a empresa acumulou cerca de 40 milhões de assinantes só no Disney+.


Na primeira semana do ano, a Apple TV+ comprou o antigo CEO da HBO, Richard Plepler. A Apple anunciou, no dia 2, que o ex-executivo da HBO assinou um contrato de exclusividade de cinco anos. Esta contratação beneficia a Apple TV+ na competição para a liderança, ao aproximar o serviço do estilo e qualidade cinematográficas da HBO.

Depois de 27 anos na HBO, Plepler, que trouxe sucessos como a Guerra dos Tronos, vai passar a produzir filmes para “o primeiro e único serviço de streaming a ser lançado em simultâneo em cem países e regiões”, como descrito pela Apple em retrospetiva do ano que passou. Segundo o The New York Times, a sua produtora Eden Productions faz parte do acordo e passará a trabalhar, também, exclusivamente para a Apple TV+.


Com estreia prevista para maio de 2020 nos Estados Unidos, o HBO Max é o novo serviço do canal. O serviço de streaming passará a exibir, também, conteúdo da produtora Warner Bros. Entertainment e produções da DC Comics. Também com estreia marcada para este ano, surge, nos EUA, o Peacock, uma plataforma da NBCUniversal, com séries como The Office e Parks and Recreation no catálogo, e ainda produções originais.


A concorrência é muita, mas há dois inimigos comuns: a partilha de contas e a pirataria. Estima-se que, em 2019, as empresas de streaming perderam cerca de 9,1 mil milhões de dólares graças à partilha de contas.


Segundo um estudo da Hub Entertainment Research, 31% dos entrevistados já cederam as credenciais das suas contas a pessoas com quem não moram. Deste valor, 64% consiste em pessoas entre os 13 e 24 anos. Naqueles com mais de 35 anos, o valor desce para 16%.


De acordo com um estudo da Parks Associates, devido à pirataria, quando os acessos aos serviços são vendidos ilegalmente, as empresas podem perder até 12,5 mil milhões de dólares em 2024.


Antes cabia tudo numa televisão, agora é preciso comprometer


Um dos grandes problemas desta nova forma de ver televisão é a obrigatoriedade da escolha de um serviço em detrimento de outro - limitando significativamente as opções de visionamento. Contudo, questiona-se a viabilidade da existência de um único serviço de streaming by demand, pois implicaria a unificação das várias empresas em jogo.


Na CES 2020, a feira de tecnologia que decorre de 7 a 10 de janeiro em Las Vegas, foi apresentado um novo dispositivo que promete resolver este problema. Chama-se Dabby e assemelha-se a um tablet, mas na verdade faz mais muito mais do que um. O aparelho conecta-se a um adaptador ligado à televisão e permite visionar tudo o que está disponível em todas as subscrições de streaming ativas.


Ou seja, o Dabby junta todas as ofertas no mesmo sítio, desde que se comprem os serviços, e cria um único login. Além disso, permite controlar o estado das subscrições e respetivos gastos. O lançamento está previsto para março de 2021 e a pré-encomenda custa 400 dólares.

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