Teresa Santos e Guilherme Marques juntaram ilustradores de todo o país para uma exposição a pensar nas questões climáticas. Para complementar a última greve climática global, "Já Podemos Entrar em Pânico?" levou os cartazes para a rua.
Do incessante barulho do trânsito da rua dos Clérigos entramos pela porta 44 para um corredor calmo, decorado com cartazes que apelam a uma acção não muito tranquila. Na verdade, estes cartazes de tons diferentes - tanto na cor como na mensagem - ilustram a urgência do combate às alterações climáticas, juntos numa exposição colectiva que se estreia no Porto um dia antes da greve climática global: "Já Podemos Entrar em Pânico?".
Não só podemos como temos. É mais à frente, num pátio plantado no coração do Porto e onde surpreendentemente não se ouvem os carros do outro lado, que nos sentamos com Teresa Santos para falar de "um tema do qual vale a pena falar". Ao fundo, ladeada por plantas, vemos a porta do INSTITUTO, e, na parede oposta, uma mensagem pintada há algum tempo, mas que se adequa à ocasião: "we are not a loan" (em tradução livre, não estamos sozinhos e não somos um empréstimo).
"Isto foi um bocadinho o nosso drama pessoal", começa por contar Teresa Santos, co-curadora da exposição. "Normalmente abres os jornais e tens notícias horríveis sobre a crise climática", e, já que "estamos numa óptima altura para falar disto, apesar de pelo motivo errado", da inquietação, Teresa e Guilherme Marques quiseram passar à acção.
Contactaram vários ilustradores do Porto e não só: nomes como Mariana a Miserável, Lourenço Providência, Nicolau, Elleonor, Angelina Velosa, Eva Evita, João Castro e João Fazenda e Mariana Malhão atenderam ao apelo e produziram um cartaz ilustrativo do seu apelo aos causadores da crise climática. "Realmente resulta mandar mensagem no Instagram", refere Teresa, sendo a rede social o principal meio de contacto dos artistas - à parte dos que já conhecia pessoalmente.
A ideia de juntar criadores para desenhar cartazes, em plena semana do clima e em véspera de greve global, partiu do movimento sueco Perfectly Fine, que disponibiliza cartazes com a temática do clima desenhados por ilustradores de forma gratuita, para os manifestantes imprimirem e usarem nas greves.
A adesão dos artistas foi imediata - mesmo apesar do "medo de ninguém responder, por estarem de férias" - refere a curadora, que organizou a exposição durante o mês de Agosto. A disponibilidade para o espaço foi facilitada pelo INSTITUTO, espaço cultural que ofereceu as paredes do seu armazém restaurado para a exposição. "Era o cenário ideal, assim as pessoas só tinham que descer a rua" para a greve climática, originalmente marcada para a Avenida dos Aliados e depois movida para a Praça da República.
Apesar de centenas de jovens (e não só) terem saído à rua no dia 27 de setembro para, mais uma vez, se manifestarem a favor do clima, os números não chegam nem perto aos de outros países. Ter milhares na rua pelo clima "aqui é um bocadinho difícil de acontecer", considera Teresa. Contudo, conta em chamar pessoas através da exposição:
"espero que alguém que não esteja a pensar ir à greve do clima calhe de vir aqui e depois pense duas vezes - é das únicas formas que temos de nos manifestar".
Em qualquer marcha ou greve, desde que o povo saia à rua, há cartazes. Nestes assinados por ilustradores, há texto, mas é a imagem - a que se diz que vale por mil palavras - que se destaca. "A imagem tem esse poder de cativar", diz Teresa. "À partida parece mais fácil olhar para uma imagem, mas não quer dizer que ela não seja tão forte ou que não tenha uma mensagem tão densa como um discurso ou como vermos a Greta em lágrimas na Cimeira do Clima".
"Todas as mensagens são um alerta", pensado e pintado de formas distintas pelos artistas e pelas suas experiências. Teresa Arega, por exemplo, cresceu na Madeira e pintou a floresta endémica que cobre 20% da ilha. A percentagem está a decrescer.
A exposição "Já Podemos Entrar em Pânico?" esteve aberta ao público durante quatro dias, mas a intenção por detrás dela, "dinamizar uma comunidade à volta deste assunto", estendeu-se além desse período. As ideias e os alertas estampados em papel espalharam-se pelas cabeças que olharam para os cartazes e viram algo mais. Porque "a arte, por defeito, é revolucionária".
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