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GANSO: “Se é para ficar sempre no mesmo degrau, não vale a pena trabalhar tanto nisto”

A banda lisboeta esteve no Hard Club, dia 5 de outubro, a apresentar pela primeira vez ao vivo o novo disco “Não Tarda”. A banda de Thomas Oulman, João Sala, Gonçalo Bicudo, Miguel Barreira e Luís Ricciardi surgiu em 2014 como uma brincadeira de amigos. Não Tarda é já o terceiro projeto de GANSO, depois de Pá Pá Pá e Costela Ofendida. O disco saiu dia 27 de setembro.


GANSO apresentaram o novo disco “Não Tarda” no Hard Club | Foto: Inês Pinto da Costa

Começaram como uma banda de amigos de infância, mas a verdade é que em 2015 lançaram o EP Costela Ofendida, em 2017, o primeiro disco, Pá Pá Pá, e agora, em 2019, o segundo álbum, Não Tarda. Como é que os GANSO de há cinco anos reagiriam se soubessem que iam estar hoje a apresentar o seu segundo disco?


Gonçalo Bicudo: Eu acho que devia ser o Luís a responder...

Luís Ricciardi: Na altura, quando começamos, perguntaram-me se eu queria fazer alguma coisa da banda, e eu respondi que se por acaso algum dia tocássemos no Bairro Alto, ficava contente! Na altura, era eu, dois amigos e também já estava o Oulman. Isto antes de 2015.

Thomas Oulman: Não, isso já foi em 2015! Eu lembro-me de que nós “apalavrámos” isso em fins de 2014, e depois, em 2015 começámos.

Luís Ricciardi: A banda, na altura, chamava-se Carapaus de Corrida (risos).

João Sala: Mas não respondeste à pergunta, como é que reagirias?

LR: Se soubesse? Ficava contente!


Mas então em que ano mudaram de nome para GANSO?


TO: Em 2015, com o EP Costela Ofendida.

JS: Antes de gravarmos, até! Na altura em que começámos a compor o EP começámos também a pensar que precisávamos de um nome para a banda. A música “Salamandra” até já existia, mas nós não tínhamos um nome ainda e foi nesse fim-de-semana que surgiu.


E quais são as expectativas para o concerto de hoje? Estão nervosos?


JS: Bem, hoje é a primeira vez que vamos tocar este disco novo, há muitas músicas que vamos tocar hoje pela primeira vez e, por isso, há sempre aquele nervosismo de estreia.


Como é que costuma ser o público do Porto nos vossos concertos?


JS: Efusivo! (risos).

GB: Muito mais efusivo do que o de Lisboa, geralmente.

JS: A primeira vez que estivemos aqui foi no Café Au Lait, e no final do concerto reparámos que havia uma racha – literalmente, uma racha no chão que o público “elaborou”.


Em banda, não quer dizer que seja uma regra, mas fazemos a música primeiro e depois arranjamos melodias de voz e, com base nas melodias, letras que se encaixem.

Numa entrevista à Antena 3, em 2017, disseram que o título do disco Pá Pá Pá tinha sido escolhido por ser um pedaço de letra da música “Grilo do Nilo” que não queria dizer nada (são apenas interjeições).

Neste caso, Não Tarda não é um pedaço de letra, mas é a segunda música do novo longa-duração que acaba por dar o título ao disco. Porquê esta opção?


JS: Na verdade, foi o contrário. Nós já tínhamos o nome do álbum, mas essa música ainda não tinha nome, então achámos “vamos dar-lhe o nome do disco”.

Miguel Barreira: Achámos, no fundo, que era uma música que representava bastante o álbum.

JS: Representava bem o álbum e a capa do álbum. O nome nem sequer aparece na capa, mas achámos que era uma boa legenda para a sonoridade.


Neste álbum, Não Tarda, o primeiro pensamento foi lírico ou sonoro? Pensaram primeiro em ideias ou em sonoridades mesmo?


TO: Costuma ser sonoro.

GB: O som primeiro e, depois, adaptámos a letra ao som.

TO: Acho que o processo contrário costuma acontecer mais com cantautores, normalmente. Em banda, não quer dizer que seja uma regra, mas fazemos a música primeiro e depois arranjamos melodias de voz e, com base nas melodias, letras que se encaixem.


O novo disco tem um ritmo mais compassado e lento. Isto foi algo que quiseram desde início para o disco, ou foi algo que foi surgindo no processo de criação? 

Será reflexo do próprio amadurecimento pessoal e enquanto banda?


GB: Foi uma coisa que quisemos desde início, criar um álbum com mais “espaço”.

TO: Mas olha que não foi assim tão premeditado! A primeira música foi “Os Meus Vizinhos” e essa é a que mais se destaca no disco em termos de ritmos.

GB: Mas depois fomos percebendo que, com os sons dos teclados que arranjávamos, a música “puxava” uma atmosfera mais lenta.

MB: A ideia para “Os Meus Vizinhos” foi só a primeira ideia que surgiu e, como vínhamos ainda do disco anterior, talvez seja a música que mais se assemelha à sonoridade antiga, mas que já tem alguns elementos novos. O que depois percebemos foi que começámos a fazer algumas músicas mais diferentes dessa, com mais “espaço”.

GB: Se calhar, foi um bocadinho o “fartar da correria” dos sons anteriores.


A banda apostou num amadurecimento musical em “Não Tarda”. Foto: Inês Pinto da Costa

Têm gostos diferentes ou é fácil conjugar as preferências de cada um, no que toca à composição?


JS: Eu acho que é bastante fácil. É claro que há sempre momentos em que vamos a votos (risos), mas, no geral, ouvimos as mesmas coisas e temos gostos parecidos.


Acima da simplicidade, Não Tarda é um álbum mais cuidado.

Houve algum momento mais desafiante durante a criação do disco?


GB: Houve uns quantos momentos em que questionamos “será que esta música funciona? Será que faz sentido?”

TO: E foram três “de vela”!

JS: Sim, foram três para o lixo, houve uma com imensas versões... Uma delas tentámos salvar imensas vezes, mas não funcionou!

MB: Não conseguimos reanimá-la, acabou (risos).


Podemos dizer, então, que apostaram mais em subtileza, amadurecimento e simplicidade?


LR: Acima da simplicidade, Não Tarda é um álbum mais cuidado.

MB: Mais pensado, também. Perdemos mais tempo a pensar em arranjos, sem pressa.

LR: Sim, o arranjo está mais pensado.


Sentem que o facto de estarem a crescer e de o vosso público estar a aumentar ditou que fossem mais exigentes?


JS: Na minha opinião, olhamos para trás e tentamos superar o que fizemos até agora. Fizemos isso com o primeiro disco, em relação ao EP, e agora com o segundo álbum, em relação ao primeiro.

GB: Temos de pensar em evoluir. Se é para ficar sempre no mesmo degrau, não vale a pena trabalhar tanto nisto.


A música que demorou mais tempo a fazer foi a “Sono, Leva-me Longe”?


TO: A ficar completa foi “O Teu Riso”.

GB: “O Teu Riso” já estava mais ou menos feita desde o verão de 2017.

MB: Depois foi mudando, por direção, também, do nosso produtor. Havia ali um verso que não estava a resultar bem... quase que apagámos tudo e voltámos ao zero.

GB: Também porque foi das mais antigas a ser feita. E quando estás a ouvir aquilo tantas vezes começas a notar as falhas. A bateria foi a única coisa que ficou igual.

JS: E o refrão também!

MB: É essa a maior diferença neste álbum, soa mais a um disco de estúdio do que o anterior, o “Pá Pá Pá”. O “Pá Pá Pá” soa mais a uma banda a tocar junta e a ser gravada a tocar ao mesmo tempo, enquanto este disco é mais uma banda em estúdio. Tem mais momentos em que pegamos num teclado e gravamos por cima, pegamos num instrumento e gravamos por cima... experimentamos coisas diferentes, no fundo.


Os [Capitão] Fausto também já eram nossos amigos antes de GANSO sequer existir, por isso, a participação deles foi uma coisa muito natural. A editora vem por acréscimo, não a amizade.

Algumas músicas, como “Sono, Leva-me Longe", "Chamada Em Espera" e “Os Meus Vizinhos”, contaram com a presença dos Capitão Fausto. Esta participação já tinha sido pensada antes ou foi uma ideia que surgiu mais tarde?


GB: Por acaso é uma história engraçada. No início até queríamos ter um disco todo só nosso, sem “convidados”. Depois abrimos umas exceções, mas o que é importante é que a base, o núcleo todo, fomos nós que fizemos tudo. Os convidados são sempre uns detalhes extra.

JS: Sim, sempre foi assim.

TO: E nem sequer foi um pedido formal. Como convivemos com eles diariamente, é fruto das circunstâncias.

JS: Houve um caso, por exemplo, do Manel [Palha dos Capitão Fausto] que gravou uma guitarra surpresa. Nós saímos do estúdio e quando voltámos a entrar ele deixou uma pista chamada “surpresa”. São três notas de guitarra.

GB: E que fazem uma grande diferença!

JS: Nós damos sempre créditos a qualquer participação. Assim, se calhar, o que foi mais pensado foi o violino que o Tomás [Wallenstein dos Capitão Fausto] gravou no “Sono, Leva-me Longe”. Havia uma música que já tinha um violino em sintetizador, mas queríamos que soasse a um violino a sério.

MB: Depois o Domingos [Coimbra dos Capitão Fausto] gravou umas vozes n’ “Os Meus Vizinhos”.


Ainda neste seguimento, a Cuca Monga, a vossa editora, também já gravou Zarco e as bandas paralelas dos Capitão Fausto. Podemos dizer que a editora tem uma grande influência nos vossos projetos? Também por “permitir-vos” interagir com estas bandas? Afinal, Zarco e Capitão Fausto participaram em “Não Tarda”.


JS: Sim, sim, é graças a isso que existem as participações deles.

GB: Mas a interação já existia antes disto.

LR: Com as bandas todas do “ecossistema”, basicamente.

MB: Nós já éramos amigos dos Zarco antes de eles pertencerem à editora, até.

TO: Os [Capitão] Fausto também já eram nossos amigos antes de GANSO sequer existir, por isso, a participação deles foi uma coisa muito natural. A editora vem por acréscimo, não a amizade.


Neste novo longa-duração há mais seriedade, já não vemos personagens como víamos nos projetos anteriores (como Brad Pintas, Pistoleira, Idalina). No entanto, os desenhos animados continuam a ser uma presença constante na capa. É algo que vão querer manter sempre?


TO: Mais uma vez, não foi premeditado (risos).

JS: Por acaso, lembro-me de dizermos “não, desta vez vamos ter uma fotografia nossa na capa”. E depois a capa acabou por ser o que é.

MB: No fundo, a ilustração é que veio ter connosco! Um dia, expliquei a ideia que tinha a um colega de casa e ele ficou com isso na cabeça e depois explicou a um amigo dele que agarrou num papel e fez logo o desenho que está na capa. Foi o Pedro Barassi. Quando vimos aquilo, fez logo sentido.


Capa do álbum "Não Tarda". Ilustração: Pedro Barassi

Os próximos projetos vão continuar a ser mais “maduros” ou os ex-reguilas de Pá Pá Pá vão voltar?


JS: Nunca se sabe! Eu não quero fechar a porta à “reguilagem” (risos).

TO: Eu também não!

JS: Mas nunca se sabe. Amadurecimento musical, sempre.

TO: Pode ser um reguila mais maduro, também.

MB: Um canalha (risos).




Mas sentem que gostaram mais deste álbum do que dos anteriores?


JS: Sim, é o meu preferido.

LR: Em relação ao EP, sim. Mas em relação ao anterior...

TO: Eu gosto tanto de um, como do outro, de maneiras diferentes. Estou mais orgulhoso deste, sim, mas, em termos de preferência... não tenho. Gosto muito dos dois.


E já estão a trabalhar num novo projeto?


JS: Sim, já temos umas ideias colecionadas.

LR: Para álbum. À partida será álbum.



Depois do Hard Club, GANSO apresentam o novo álbum no B.Leza, Lisboa. Foto: Inês Pinto da Costa

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