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Inês Moura Pinto

De microfone erguido e protegido pelo escudo das ideias, o Porto entrou na batalha

O Maus Hábitos acolheu, no passado dia 12 de novembro, mais uma Battle Of Ideas. O evento regressou ao Porto e trouxe consigo a questão: podemos deplorar o artista mas amar a sua arte?

De caneta e bloco na mão se eternizou o que ali era debatido | Inês Moura Pinto

As Battle Of Ideas, proporcionadas pela organização britânica Academy Of Ideas, circulam pela Reino Unido e pela Europa, despoletando pequenas trocas de ideias sobre variadas temáticas por onde passam.


Entre os oradores estavam três portugueses: Tiago Barbedo Assis, professor na Faculdade de Belas Artes, Patrícia do Vale, curadora independente em Serralves, e Paula Guerra, professora da Universidade do Porto. A moderadora, Mo Lovatt, da Academy Of Ideas, era uma escritora e investigadora especializada em diplomacia artística e cultural. O evento contou, ainda, com o convidado britânico Manick Govinda, consultor artístico independente e escritor.


O projecto, que assenta em debates organizados entre especialistas e a audiência, abordou assuntos como as acusações de assédio sexual de Kevin Spacey, ou as acusações de pedofilia de Michael Jackson. A bagagem dos oradores permitiu-lhes reflectir sobre esta nova era cultural com uma perspectiva especializada, relacionando o tema com os seus trabalhos e experiências.


Em ambos os casos, o trabalho das duas figuras culturais foi boicotado: estações de rádio deixaram de passar música de Michael Jackson e a personagem de Kevin Spacey foi morta na série House of Cards. O número de artistas desmascarados pelas suas ofensas imorais é crescente e, em muitos casos, são-lhes mesmo negadas oportunidades de trabalho no mundo artístico. Os protestos #MeToo foram o grande catalisador desta nova tolerância zero, e não ficaram esquecidos neste debate.


Contudo, esta conversa informal viajou até ao passado, onde também já houve transgressões imperdoáveis de alguns artistas, agora imortalizados e idolatrados. Como o caso da cineasta alemã Leni Riefensthahl, que trabalhou para o partido nazista de Hitler e foi uma das maiores contribuições para a técnica cinematográfica, também a era Estado Novo não escapou aos oradores. Uma das questões lançadas foi se os edifícios da época deveriam ser destruídos porque os seus arquitectos tinham ligações de extrema direita.


Podemos, então, separar o artista da sua arte? Consumir a arte seria desculpar as atitudes do artista e perpetuá-las? Condenar a arte seria ignorar a sua contribuição história e cultural? Estas questões não têm respostas exactas, mas servem para despertar o criticismo de cada espectador. A derradeira batalha travou-se, então, mais para o final, com a entrada da audiência em campo. As suas perguntas não procuram respostas sobre o que está certo ou errado, mas fomentam, sim, a partilha de reflexões.


Reflexão de uma espectadora:





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